Notícias
17
ABR
Ferramenta de inteligência artificial do governo paulista já corrigiu mais de 400 mil redações desde dezembro
Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação mostram ainda que a Secretaria Estadual da Educação prevê gastar R$ 900 mil por mês pela ferramenta de 'assistente de correção virtual' da plataforma Redação Paulista. Inteligência artificial está sendo testada para produzir material didático Implementada em 30 de novembro de 2023, uma ferramenta de assistência virtual de correção de redações criada pela Secretaria Estadual da Educação de São Paulo (Seduc-SP) já corrigiu, até 25 de março, 405.410 redações escritas por estudantes da rede e inseridas na plataforma Redação Paulista. Pelo menos 23.375 professores em 4.210 escolas estaduais usaram a ferramenta no mínimo uma vez. Os dados foram obtidos pelo SP2 via Lei de Acesso à Informação (LAI), e mostram que o governo prevê gastar uma média de R$ 900 mil por mês pelo uso do "assistente de correção virtual", ou cerca de R$ 10 mil em todo o ano de 2024. Em dezembro de 2023, primeiro mês de operação da ferramenta, foram gastos R$ 350 mil. LEIA MAIS: Governo de SP avalia utilizar inteligência artificial para 'aprimorar' conteúdo digital nas escolas estaduais IA da Seduc corrige, professor revisa A ferramenta funciona na plataforma Redação Paulista, que já existia antes da adoção de inteligência artificial. Segundo dados da própria secretaria, "mais de 2,4 milhões de estudantes submeteram 3,5 milhões de redações" apenas no segundo semestre de 2023. Com a assistente virtual, a pasta afirmou, em dezembro, que a ideia é agilizar e facilitar essas revisões. A Seduc-SP informou, via LAI, que a "correção é apresentada apenas para o professor, que pode editar os comentários e a nota apresentada". A TV Globo procurou a Seduc para saber se a revisão é obrigatória para todas as redações. Por meio da assessoria de imprensa, a secretaria atualizou os números informados via Lei de Acesso à Informação e disse que "com o encerramento do 1º bimestre, 1,9 milhão redações foram corrigidas com o apoio do assistente". A pasta disse ainda que "realizou formações virtuais e presenciais com os professores" e que a plataforma Redação Paulista realiza automaticamente uma correção ortográfica e gramatical do texto de cada estudante antes que ele seja enviado, "que servem para alertar o aluno a forma correta da escrita". "Para fazer as mudanças necessárias no texto, o estudante precisa reescrever a palavra e, só aí, fica liberada a função de envio do texto para o professor. Quando o docente recebe o texto, a plataforma aponta automaticamente se foram seguidos os critérios avaliativos obrigatórios, como coerência, argumentação e adesão ao tema. Cada um desses tópicos deve ser validado pelo professor, a quem cabe, após o uso do recurso, a avaliação final quanto a intepretação textual e a correta adesão ao tema da redação, até atingir a completa correção e nota", explicou a Seduc. Professora de 'redações nota mil' ainda não adotou IA Sharlene Leite, professora que se especializou em aulas de redação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), afirmou ao SP2 que está estudando como usar tecnologias como a inteligência artificial no processo pedagógico de corrigir e avaliar os textos de seus alunos, mas ainda não adotou nenhuma delas. "Não nós estamos usando a inteligência artificial, embora já estejamos estudando todos esses processos", afirmou ela, que atualmente é diretora de Redação do Grupo Fleming Educação, um curso pré-vestibular com unidades em Brasília, Curitiba, Santa Catarina e Porto Alegre. Atualmente, ela coordena uma equipe de 100 professores que corrigem uma média de 4 mil redações por semana. E já deu aulas para cinco estudantes que obtiveram a nota mil na redação do Enem. De professora de redação a candidata do Enem: após ter duas alunas com nota mil na redação do Enem, Sharlene Leite, de Brasília, decidiu fazer a prova para se colocar no lugar de seus alunos Arquivo pessoal/Sharlene Leite Os motivos para essas revisões ainda serem feitas manualmente envolvem o próprio estado atual da tecnologia, que ainda não atingiram um grau de autonomia suficiente para economizar o tempo dos corretores, mas garantir o aprimoramento específico dos estudantes nessa habilidade. "A inteligência artificial ainda apresenta muitas inconsistências, principalmente na interpretação mais fina. Ela já tem sido muito eficiente no que diz respeito a questões objetivas, cujas respostas estão fechadas", explica a especialista. "A redação é a única parte da prova [de vestibulares como o Enem] na qual o aluno consegue colocar alguma subjetividade. Então, a inteligência artificial ainda não está apta a interpretar com tanta acurácia as especificidades da nota, principalmente considerando que a redação pode equivaler até 33% da aprovação de um estudante pelo Enem", avalia Sharlene Leite, professora especialista em redação. E completa: "Uma correção mais genérica pode ser eficiente em larga escala, de repente. Mas uma correção com aprimoramento específico a inteligência artificial ainda não entrega". A conclusão da professora vem de várias ferramentas que ela tem testado. "Várias plataformas já oferecem, a gente já fez vários testes. Mas, para a alta performance, nós não conseguimos substituir a correção de um professor pela correção do robô", disse Sharlene. "E outro ponto relevante é que, se o professor tem de fazer uma revisão, ele precisa ler esse texto. Então acaba ficando um retrabalho dentro desse contexto de revisão." IA para produzir material didático O governo estadual também pretende adotar ferramentas de inteligência artificial na produção do material didático digital, as aulas em slides introduzidas em 2023 pela gestão de Renato Feder à frente da pasta. A informação foi revelada nesta quarta-feira (17) pelo jornal Folha de S. Paulo. A TV Globo teve acesso, na tarde desta quarta, ao documento que, segundo fontes ouvidas pela reportagem, ainda tinha circulação restrita à coordenação pedagógica, e ainda não havia sido distribuída para as diretorias regionais de ensino e às escolas. Uma captura de tela do documento mostra que se trata da produção de aulas digitais com "em torno de 18 slides de conteúdo, excetuando slides padrão (capa, referências etc.)". O trabalho deve ser feito por cerca de 90 professores chamados de "curriculistas", que elaboram o material posteriormente distribuído aos docentes que atuam em sala de aula. Ainda de acordo com o documento, o processo de trabalho seria feito em cinco etapas: A primeira etapa é a "versão original" da aula. Segundo o documento, uma "ferramenta de IA gera a primeira versão da aula com base nos temas pré-definidos e referências concedidas pela Secretaria". Depois há uma etapa de "edição". O texto diz ao professor que ele é "responsável por avaliar a aula gerada e realizar todos os ajustes necessários para que ela se adeque aos padrões pedagógicos e de qualidade definidos no Guia de premissas pedagógicas e de padronização". O processo não termina aí. Uma terceira etapa é a "revisão técnica", na qual outra equipe interna da Secretaria "revisa o material e realiza os ajustes necessários", podendo devolver ao professor curriculista para que ele adeque o conteúdo. A quarta etapa é de "pré-produção": uma vez que o conteúdo seja considerado adequado, ele passa por "revisão linguística, formatação e produção de recursos didáticos inéditos (como gráficos, tabelas, infográficos entre outros)". Por fim, vem a etapa final, de "aprovação", realizada mais uma vez pelo "time interno da Secretaria, que valida a aula para ser divulgada para a rede de escolas estaduais". O projeto-piloto, ainda de acordo com o documento, tem previsão de início na próxima segunda-feira (22), com uma semana de formações e treinamentos on-line. E a previsão é que os professores participantes entreguem três aulas a cada dois dias úteis, e sejam contratados como prestadores de serviço à secretaria. Em nota ao g1, a Seduc negou que substituiria os professores por inteligência artificial. "É o professor que vai transmitir esse conhecimento para o aluno", explicou, no fim da tarde, o secretário-executivo da pasta, Vinicius Neiva, em informações encaminhadas à TV Globo. "O que a gente pretende com isso é simplesmente aperfeiçoar esse processo, e trazer um processo mais interativo, um processo mais ágil, mais eficiente e que seja voltado para o aprendizado do aluno, de uma forma mais interessante e mais estimulante para ele." (Vinicius Neiva, secretário-executivo da Seduc-SP) *Sob supervisão de Ana Carolina Moreno *Com supervisão de Ana Carolina Moreno.
17
ABR
Greve nas universidades: servidores de instituições federais marcham na Esplanada dos Ministérios, em Brasília
Ao menos 51 universidades e 79 institutos estão em greve no Brasil por reestruturação de carreira. Servidores cobraram Ministério da Gestão, que disse que apresentará proposta até final da semana. Servidores de universidades e institutos federais protestam em Brasília Servidores públicos de universidades e institutos federais se reuniram, na manhã desta quarta-feira (17), em Brasília, para uma marcha em direção ao Ministério da Gestão, na Esplanada dos Ministérios (veja vídeo acima). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp. Ao menos 51 universidades e 79 institutos federais estão em greve no Brasil por reestruturação de carreira, recomposição salarial e orçamentária, e revogação de normas aprovadas nos governos Temer e Bolsonaro, segundo levantamento feito pelo g1. Na manifestação desta quarta-feira, os servidores carregavam faixas com as principais reivindicações dos docentes, e cobraram um resposta do governo federal. Procurado pelo g1, o Ministério da Gestão disse que a reestruturação de carreiras na área da educação é um "compromisso prioritário" da pasta e que vai apresentar uma proposta até sexta-feira (19) (veja íntegra mais abaixo). “Não vamos aceitar que a nossa categoria seja dividida em classes, e que uma ganhe mais que a outra. Queremos reajuste para todos, ativos, aposentados e pensionistas", disse um representante da Federação de Sindicatos de trabalhadores técnico-administrativos em educação das instituições de ensino superior públicas do Brasil (Fasubra). Os docentes da Universidade de Brasília (UnB) estão em greve desde segunda-feira (15), por tempo indeterminado (veja detalhes abaixo). Os servidores técnico-administrativos da universidade estão paralisados desde o dia 11 de março. Greve na UnB Professores da UnB votam pela greve na universidade Fernanda Bastos/g1 O início da greve dos professores da UnB foi aprovado por 257 votos a favor e 213 contra em Assembleia Geral Extraordinária convocada pela Associação de Docentes da UnB (Adunb) no dia 8 de abril. A ação é motivada pela falta de reajustes salariais e nos auxílios alimentação, saúde e creche. Os professores pedem, além da recomposição salarial, a equiparação dos benefícios e auxílios com os servidores do Legislativo e do Judiciário ainda em 2024 e também a revogação de atos normativos criados durante governos anteriores que impactam a carreira dos docentes (entenda abaixo). Segundo o MEC, no ano passado, o governo federal promoveu reajuste de 9% para todos os servidores. "Equipes da pasta vêm participando da mesa nacional de negociação e das mesas específicas de técnicos e docentes instituídas pelo MGI, e da mesa setorial que trata de condições de trabalho", diz a pasta. Reivindicações dos professores Os professores da UnB pedem recomposição salarial com reajuste de 22,71%, divididos em três parcelas: 2024: 7,06% 2025: 7,06% 2026: 7,06% O governo federal, por meio do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), propôs um reajuste de 9% dividido em duas parcelas: 2024: sem reajuste 2025: 4,5% 2026: 4,5% O governo também apresentou uma proposta de reajuste dos auxílios alimentação, saúde e creche que não contempla aposentados e pensionistas. O texto que o governo colocou na mesa reajusta já a partir de maio deste ano: o auxílio alimentação de R$ 658 para R$ 1 mil (alta de 51,9%) a assistência à saúde complementar per capita média (auxílio saúde) de R$ 144 para R$ 215 a assistência pré-escolar (auxílio creche) de R$ 321 para R$ 484,90 O que diz o Ministério da Gestão "A reestruturação de carreiras na área de Educação é um compromisso prioritário do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Na sexta-feira (19/5) o governo apresentará uma proposta convergente com o relatório do Grupo de Trabalho formado por representantes dos Ministérios da Educação e da Gestão, das universidades e instituições de ensino, além de entidades sindicais representantes dos servidores do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE). O Ministério da Gestão segue aberto ao diálogo com os servidores da área de educação e de todas as outras áreas." LEIA TAMBÉM: GREVE NA EDUCAÇÃO: quase 300 campi de institutos federais estão sem aula VOTAÇÃO A FAVOR DA GREVE: Professores da UnB decidem entrar em greve Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.
17
ABR
Entenda por que o SUS Paulista pode causar déficit de R$ 55 milhões para o HC da Unicamp
Projeção foi feita pela própria universidade e exposta para deputados estaduais no início do mês. Segundo diretor-executivo da área da saúde, hospital já está subfinanciado. Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP) Reprodução/EPTV1 Uma mudança na forma de remuneração pelos serviços prestados via Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado de São Paulo, batizada de Tabela SUS Paulista, pode causar um déficit financeiro de R$ 55 milhões para o Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp em 2024. Entenda todos os detalhes abaixo. 👇 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp 📈 A projeção foi feita pela direção da área da saúde da universidade em Campinas (SP) no início de abril. O HC, localizado no campus da Unicamp, já vive as primeiras consequências da alteração dos repasses. "A nossa necessidade é para hoje. Nós estamos subfinanciados neste mês em mais de R$ 7 milhões", revela Oswaldo Grassiotto, diretor-executivo da área da saúde da universidade. 👀 Nesta matéria, você vai ver: O que mudou? Por que a mudança prejudica a Unicamp? O que é alta complexidade? O que é a Tabela SUS Paulista? Por que a Unicamp não é beneficiada pelo SUS Paulista? Como o HC funciona mesmo subfinanciado? Por que o HC não fecha o pronto-socorro? O que deve ser feito para solucionar o problema? O que mudou? 🤔 Como era antes? Antes, o financiamento dos hospitais pelo SUS em São Paulo era feito a partir de um teto estabelecido em R$ 186 milhões anuais, aproximadamente R$ 15,4 milhões mensais. Esse valor era fixo: independentemente de quantos procedimentos o HC realizasse, eles recebiam esse pagamento. 👉 Ou seja, quando a Unicamp relata um subfinanciamento de R$ 7 milhões no mês de março, isso quer dizer que o HC está operando com aproximadamente metade dos recursos que ele costumava receber. 🤔 Como é agora? Com o SUS Paulista, o pagamento é baseado nos procedimentos feitos. Simplificando, isso significa que se o hospital realizar mais procedimentos, ele recebe mais dinheiro. No entanto, os valores são estabelecidos com base na complexidade dos procedimentos realizados, e isso é justamente o fator que prejudica o HC da Unicamp. Mutirão de pacientes da fila de cirurgias do SUS para avaliação pré-operatória no HC da Unicamp Elaine Ataide Por que a mudança prejudica a Unicamp? O HC atende muitos casos de urgência, e a maioria destes casos são de baixa remuneração e geralmente resultam em internações prolongadas. Isso ocupa os leitos do hospital e dificulta a realização de procedimentos mais complexos e mais bem remunerados, que seriam, em teoria, a principal função do HC Unicamp. 🤔 E por que o HC atende esses casos? A unidade é do tipo "porta aberta", ou seja, que está sempre disponível para receber pacientes. Independentemente do horário, condição médica, agendamento ou encaminhamento médico, o hospital oferece serviços de emergência e pronto-socorro que operam ininterruptamente. Esses casos de urgência ocupam 80% dos leitos e geram superlotação, mas não era para ser assim, segundo a diretoria da área de saúde. Tanto porque o HC foi idealizado para atender casos de alta complexidade quanto porque a maioria dos casos poderia ser resolvidos em outras unidades de saúde. 🩺 "Na chegada, a gente vê que três a cada quatro casos que chegam de urgência não precisariam vir para a Unicamp. Poderiam ter sido resolvido em um hospital pequeno, lá na cidade de origem do paciente", diz Grassiotto. "Mas chegou na urgência, você vai ter que atender, vai ter que dar algum destino". HC da Unicamp enfrentou mais um dia de superlotação Heitor Moreira/EPTV 🤔 O que é alta complexidade? São procedimentos que exigem um alto nível de especialização técnica, estrutura adequada e, muitas vezes, tecnologia de ponta. Alguns exemplos: cirurgias no coração, cirurgias em bebês e transplantes de órgãos. O que remediava a situação do HC era justamente o financiamento do SUS pelo teto de R$ 186 milhões anuais. 💊 O contrato anterior permitia que a Unicamp realizasse até 80% dos procedimentos de baixa e média complexidade sem afetar o repasse de verbas. O que é a Tabela SUS Paulista? Segundo o governo do Estado de São Paulo, a Tabela SUS Paulista é uma iniciativa inédita cujo objetivo é aumentar o atendimento na rede pública de saúde e reduzir filas de espera. Ela foi implementada em 1º de janeiro de 2024. 📆 ⏩ Para isso, além de mudar critérios para o repasse das verbas, a estratégia da Secretaria Estadual de Saúde é complementar o valor encaminhado pelo Ministério da Saúde pelos procedimentos hospitalares. O governo estadual defende que isso possibilita que as unidades de saúde recebam até cinco vezes a tabela adicional do SUS. Veja exemplos de procedimentos reajustados no gráfico abaixo. 👇 https://public.flourish.studio/visualisation/17589738/ A iniciativa, segundo o governo, visa corrigir uma subvalorização destes procedimentos mais simples, já que os valores da tabela federal do SUS não são reajustados há, pelo menos, dez anos. O governo também afirma que o sistema de remuneração deve beneficiar 354 hospitais em todo o estado, entre eles Santas Casas, entidades filantrópicas e autárquicas, que representam 50% do atendimento hospitalar na rede pública paulista. 🏥 Hospital de Clínicas (SP) da Unicamp Reprodução/EPTV Por que a Unicamp não é beneficiada pelo SUS Paulista? O complemento de verba estadual sobre o valor do SUS federal beneficia hospitais privados filantrópicos e alguns hospitais públicos específicos, os autárquicos. No caso do HC, mesmo tendo um grande volume de atendimento, ele não se enquadra nesses critérios. Hospitais filantrópicos são instituições sem fins lucrativos que recebem incentivos do governo para prestarem serviços de saúde à população carente. Já os hospitais autárquicos são unidades públicas com autonomia administrativa, muitas vezes ligadas a órgãos governamentais. 🚫 No entanto, no caso da Unicamp, o HC é parte integrante da universidade e do governo estadual. Por isso, ele não se enquadra nos critérios estabelecidos para receber o benefício adicional do SUS Paulista. "A Unicamp ter um déficit, do que ela poderia receber, comparado com o que ela está recebendo, de no mínimo R$ 50 milhões, porque nós vamos continuar trabalhando. Nós não vamos fechar leitos, não vamos diminuir o pronto-socorro, simplesmente porque não dá pra fazer. Mas nós estamos sendo punidos duas vezes", afirma Grassiotto. Essa dupla punição a que Grassiotto se refere ocorre pelos seguintes motivos: pelos atendimentos que o HC presta via pronto-socorro, que aumenta a realização de procedimentos de baixa e média complexidade e são menos remunerados, pelo fato do HC ser um hospital público ligado ao governo estadual, sem uma fundação que administre a unidade de saúde — o que o caracterizaria como hospital autárquico. Em nota enviada ao g1, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que o HC da Unicamp tem o orçamento vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia. Além disso, a SES também informou que as pastas de Saúde, Ciência e Tecnologia e a reitoria da Unicamp vêm estudando maneiras de complementar a receita utilizando a Tabela SUS Paulista, com recurso estadual. (Veja a nota na íntegra no fim da reportagem.) 💰 Caso a Unicamp fosse contemplada pela tabela SUS Paulista, segundo a projeção da própria universidade, ela deveria receber R$ 264 milhões anuais, R$ 78 milhões a mais que o teto de gastos previsto pelo contato anterior. 👉 Isso permitiria que o HC seguisse realizando os procedimentos de baixa e média complexidade e operando o pronto-socorro com um equilíbrio financeiro bom o suficiente para, inclusive, melhorar o atendimento e desfazer filas de espera por cirurgias. Fila para atendimentos via SUS no HC da Unicamp, em Campinas Reprodução/EPTV Como o HC funciona mesmo subfinanciado? 💲 O diretor-executivo da área de saúde da Unicamp explica que para cada R$ 1 que o SUS investe no HC, a universidade investe R$ 3. Pelo menos 20% de todos os recursos repassados para a instituição de ensino é direcionado ao Hospital de Clínicas. Esse investimento da Unicamp, segundo Grassiotto, é o que paga salários, compra insumos e financia outras atividades essenciais para o funcionamento do HC. No ano passado, segundo o diretor, a universidade investiu R$ 550 milhões apenas em procedimentos de média e alta complexidade. 🩺 "Funcionamos assim, meio apertado do ponto de vista financeiro, mas passamos o ano de 2023 e a Unicamp não mexe no recurso que ela coloca, apenas corrige todos os anos conforme as receitas que vem do governo do Estado", explica. No entanto, esses 20% de recursos investidos na área de saúde pela Unicamp — é uma espécie de 'ponto de honra' para a universidade nunca deixar o orçamento abaixo deste índice, segundo Grassiotto — é dividido em 12 parcelas mensais, tal qual uma mesada. O problema é que com o subfinanciamento via SUS, essa reserva tem meses contados. 📅 "Nós estamos gastando a parcela de dezembro nesse momento. Com a falta de dinheiro tão grande em janeiro, fevereiro e março, nós tivemos que antecipar as parcelas. A Unicamp está adiantando a mesada e quando chegar agora no mês de maio, junho, nós estaremos sem dinheiro da universidade para tocar o HC. Nós vamos tocar com aquele dinheiro do SUS que está com um déficit de R$ 7 milhões a cada mês", lamenta o diretor. O diretor executivo da Área da Saúde da Universidade, Oswaldo Grassiotto durante apresentação dos dados aos deputados estaduais Antônio Scarpinetti Por que o HC não fecha o pronto-socorro? Grassiotto diz que o HC da Unicamp é a 'ponta da linha de urgência-emergência'. Em outras palavras, quem chega até lá é porque não conseguiu atendimento em outros lugares e foi encaminhado para o hospital. E esse é o principal motivo pelo qual não é possível fechar o pronto-socorro do HC. 🏥 🥼 O diretor da área de saúde do HC explica que a região de Campinas não tem capacidade ou não está organizada para fazer atendimentos de média complexidade ou de urgência-emergência, e por isso os tratamentos que poderiam, em tese, serem feitos em hospitais menores ou Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), vão para a Unicamp. "Isso vem acontecendo desde que se tem um pronto-socorro aberto, e sempre que a gente tenta corrigir e fechar o pronto-socorro, como a rede regional não dá conta de atender porque ela não está organizada, a Unicamp recebe uma pressão muito forte para reabri-lo no dia seguinte. Essa pressão é irresistível, porque vem prefeito, governador, autoridades em geral falar 'doutor, abre e depois nós vamos dar uma solução pra isso'", relata Grassiotto. Mas a solução não vem, e o HC da Unicamp segue superlotado de casos de baixa e média complexidade. No fim, isso gera dois efeitos negativos: a superlotação e o baixo retorno financeiro via SUS. "Isso desloca muito a nossa capacidade de produzir a alta complexidade, que é reduzida, e aumenta muito a nossa produção na baixa e média complexidade. O resultado disso é que o valor financeiro do que nós fazemos é pequeno", resume Grassiotto. O que deve ser feito para solucionar o problema? Os representantes do HC Unicamp expuseram esse problema aos deputados estaduais durante uma reunião com 12 políticos no campus de Barão Geraldo, em Campinas, no início de abril. A universidade defende que o SUS Paulista seja ampliado para contemplar mais hospitais para garantir um atendimento adequado a todos os pacientes. "O paciente não quer saber se ele está sendo atendido em um hospital filantrópico ou autárquico, ele quer que a saúde dele seja cuidada como um cidadão brasileiro com direito ao SUS. É pra não ter esse tratamento diferenciado e negativo para o usuário da Unicamp que a gente vem se movimentando", afirma Grassiotto. Além da inserção do HC na Tabela SUS Paulista, outra pauta que a Unicamp levanta há tempos é a reorganização do sistema de saúde regional, sendo necessário, segundo a universidade, a construção de um hospital regional em Campinas dedicado ao atendimento de urgência. A expectativa é que a construção deste hospital regional permita que o HC se concentre em procedimentos de alta complexidade. "A Unicamp dá o terreno e opera o hospital. Ela só não financia o hospital porque ela já está financiando o nosso", diz Grassiotto. Além disso, enquanto a construção do hospital regional não acontece, a Unicamp sugere que seja criada uma infraestrutura mínima de atendimento de urgência, como a abertura UPAs ou a utilização de pequenos hospitais regionais com leitos disponíveis para desafogar o HC. Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que está comprometida com a busca de uma solução que não traga impactos para o atendimento da população. Veja, abaixo, o texto na íntegra. ⏬ A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que a Tabela SUS Paulista, implantada em janeiro de 2024, foi criada para aumentar os repasses aos hospitais filantrópicos, em razão da defasagem na tabela federal do Ministério da Saúde. O HC de Campinas, diferente dos outros hospitais universitários , é ligado à Unicamp cujo orçamento é vinculado à Secretaria de Ciência e Tecnologia. As pastas de Saúde, Ciência e Tecnologia e a reitoria da Unicamp vêm estudando maneiras de complementar a receita utilizando a Tabela SUS Paulista, com recurso estadual. A SES está comprometida com a busca de uma solução que não traga impactos para o atendimento da população. VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas